Natal em greve no comércio <br>por salários, direitos e respeito
REIVINDICAÇÃO O CESP/CGTP-IN convocou greve para dias 23 e 24 em todo o sector da grande distribuição, pela negociação do contrato colectivo, por aumentos salariais e contra a ofensiva patronal.
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A associação patronal APED não aceita negociar aumentos salariais nem outras reivindicações e propõe mesmo a redução do valor pago pelo trabalho suplementar e em dia feriado, ao mesmo tempo que pretende introduzir na contratação colectiva o «banco» de horas, muito para lá do que já é permitido com a «adaptabilidade». A acusação é feita pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, nas informações que nos últimos dias tem distribuído ao pessoal das principais cadeias de super e hipermercados: Lidl, Auchan (Jumbo e Pão de Açúcar), Sonae (Continente), Jerónimo Martins (Pingo Doce) e DIA (Minipreço e Clarel).
O CESP rejeita tal ataque e contrapõe com as exigências de: negociação do contrato colectivo de trabalho; aumento dos salários de todos os trabalhadores e o fim da Tabela B, mais baixa, aplicada em todo o País, excepto nos distritos Lisboa, Porto e Setúbal; progressão automática dos operadores de armazém até ao nível VIII; horários de trabalho regulados, que respeitem o direito à conciliação do trabalho com a vida pessoal e familiar.
Neste quadro foi convocada greve, para sábado e domingo, em todo o sector da distribuição, abrangendo super e hipermercados, grandes superfícies especializadas, bem como os respectivos armazéns e logísticas.
Foram ainda marcadas outras formas de luta para algumas das empresas, onde trabalhadores e sindicato avançaram com processos reivindicativos específicos. Todas as empresas referidas assumem responsabilidades nos órgãos sociais da APED.
No Lidl, o período de greve foi alargado a dia 22, sexta-feira, com realização de uma concentração frente à sede da empresa, no Linhó (Sintra), às 11 horas. «De que serve o diálogo, se não concretizam os compromissos assumidos», questiona o CESP, reclamando que os trabalhadores sejam compensados pela retirada do período de pausa, que acabe o registo de «horas negativas» e que as horas «positivas» sejam liquidadas como trabalho suplementar, que o pessoal que está a tempo parcial passe a tempo inteiro onde há necessidade de reforço do quadro, que os trabalhadores das empresas de trabalho temporário passem a efectivos do Lidl, que seja posto fim à pressão e ao assédio.
No Grupo Jerónimo Martins, a greve também abrange o dia 22 (na JMR), para além de dias 23 e 24 (JMR e Pingo Doce). Neste caso, particular descontentamento suscitou a falta de cumprimento de medidas que a empresa anunciou em Setembro. Afinal, protesta o CESP na «folha sindical» dirigida aos trabalhadores da logística e lojas deste grupo, não acabou a Tabela B e os aumentos salariais foram só para alguns, porque «a empresa cria critérios dentro dos critérios, ou altera-os depois de anunciados, para não aumentar os salários a milhares de trabalhadores».
O Grupo Auchan, na última reunião com o sindicato (dia 12), «remeteu praticamente tudo para a negociação do contrato colectivo» e limitou-se a marcar para Janeiro nova reunião, sobre horários de trabalho. «Fica ainda mais clara a justeza da greve» nos dias 23 e 24, comentou o CESP, na «folha sindical» de Dezembro.
O Grupo DIA, depois da luta de 19 de Outubro (greve e concentração frente à sede, em Oeiras), aceitou reunir com o sindicato. Mas, no dia 20 de Novembro, «apresentou uma mão cheia de nada, em tudo o que é essencial», e acabou por retirar uma correcção insuficiente da situação de discriminação salarial de 150 trabalhadores, que propusera à comissão sindical em Junho.
Na Modelo Continente Hipermercados, o sindicato considera inadmissíveis os baixos salários, a desregulação dos horários e o incumprimento dos direitos dos trabalhadores. Apesar de o CESP ter apontado várias situações concretas, «permanecem comportamentos e práticas ilegais» que atentam contra os direitos reconhecidos na lei e na contratação colectiva. Na «folha sindical» para o grupo, é dada especial atenção aos horários de trabalho, acusando a rede da Sonae de fazer de tais violações uma forma de ter os trabalhadores a trabalhar «à borla» e dispor da vida destes conforme lhe interessa.
A greve de dias 23 e 24 foi alargada a dia 22 nos armazéns (logística).